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POR QUE VÁRZEA DO CAVOUCO?

Considerando que toda margem de curso d’água é uma várzea, e que no Recife temos dois rios principais e dezenas de rios menores, pode-se afirmar que temos muitas e diversas várzeas espalhadas pela região metropolitana.

Eu mesmo vivi minha primeira infância na várzea do ribeiro Pacheco, que nasce no antigo sítio Sicupira Torta, pertencente a João Fernandes Vieira, e banha o logradouro de mesmo nome, Pacheco.

Depois, mudamos para a rua 15 de Novembro, às margens, ou seja, na várzea do Rio Tejipió. Em seguida, fomos para a estrada velha do Engenho Curado, banhada pelos riachos Triângulo e Paul, que desaguam no canal Guarulhos, no bairro de Jardim São Paulo, antigo engenho São Paulo.

Na adolescência, uma tia nos pediu para irmos morar no Pina, no lugar chamado Jardim Beira Rio, às margens (várzeas) do estuário em que se encontram os rios Jordão, Pina, Tejipió e Jequiá, além de um braço morto do Capibaribe, que vem pela Ilha do Retiro, Ilha do Zeca, Afogados e Ilha de Deus, desembocando no que erroneamente chamam de Bacia do Pina, posto que é a foz de vários rios.

Morei nas várzeas, muitas várzeas, de muitos rios. Não tão ilustres quanto as várzeas do Beberibe, tampouco de seu irmão mais afamado, o Capibaribe.

Jamais pensei, no entanto, em vir morar numa tão diminuta várzea, que, surpreendentemente, é tão imensa em história:

A Várzea do Riacho Cavouco.

Enclavada dentro do campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco, essa região foi desmembrada da Várzea do Capibaribe, nos idos de 1960, quando da construção do prédio das Engenharias, hoje CTG – Centro de Tecnologia e Geociências.

Esse desmembramento foi lentamente tornando o lugarejo, remanescente do antigo engenho do Meio, numa reserva ambiental informal, em que estão de pé, muitas árvores centenárias, em sua maioria de floresta nativa e diversas árvores frutíferas e plantadas por velhos sitiantes do local. Porém, o difícil acesso a esse lugarejo, ensejou um ostracismo aos moradores, isolando e tornando invisível, a comunidade, que teima em permanecer no território e defender a posse da terra, que aliás, foi ganha em processo judicial, no STJ.

Hoje, o chamado Engenho Velho nem é Várzea, nem é Cidade Universitária, pois não está no mapa do campus, tampouco no da Prefeitura do Recife. Nem o Google Earth nos reconhecia até um dia desses.

Mas, também somos uma várzea, pequenina e bucólica, escondida do burburinho da grande várzea, do outro lado dos prédios. Muitos dos antigos moradores foram expulsos ou indenizados e hoje moram nas adjacências dessa antiga vila agrícola, que ainda é chamada Arruado do Engenho Velho da Várzea.

Mas, de que várzea, cara pálida?

Uma tomada de posição de pertencimento e identidade nos aponta, bem aqui, nos nossos quintais, ubérrimos, garridos, prenhes de verde e de vida, a nossa pequena várzea. Pois é! Temos a nossa própria várzea, a do Riacho Cavouco, e, não, a do Capibaribe.

Conclusão:

Se somos uma região autônoma e fora do mapa, temos de assumir isso:

Portanto, fica declarada, unilateralmente, a República Independente do Arruado do Engenho Velho da Várzea do Cavouco, enclave situado no que restou da antiga sede do Engenho do Meio, que hoje redescobre a sua identidade mais profunda e telúrica!

Viva o Arruadinho da Várzea do Cavouco!

Viva!!!

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